domingo, 13 de março de 2011

Caminhar é uma escolha

Por isso sofrem, por isso sonham, por isso choram. Por isso se perguntam e, às vezes, se desesperam,  insurgem-se e se lançam no abismo da incerteza, de onde ressurgem alados, pássaros brancos a serviço da liberdade e da promessa de redenção do mundo.”

Por mais dificuldade que eu possa encontrar no meu caminho, minha vida segue em frente, pois ouso ser senhora de minha história e verdade. Afinal, a escolha de caminhar foi minha...

O texto que transcrevo abaixo por si só é uma grande lição de vida. Aprecie!

Caminhar
Por Tenório Telles

A vida não é um caminho fácil. É uma travessia repleta de desafios, em que somos chamados, a todo instante, a reafirmar convicções, valores e os sonhos que nos sustentam. Não sabemos de onde viemos, nem para onde vamos, mas, ainda assim, seguimos viagem, enfrentando tempestades, o furor das vagas e o desconhecido. Buscamos. Estamos sempre em busca de algo que dê sentido às nossas vidas, que nos proporcione alegria e contentamento, ainda que sejam tantas as dúvidas, os medos e as incertezas.

O fato é que somos impelidos a seguirA vida, como um rio, segue sempre, embora seja difícil decifrarmos os mistérios de seu caminhar, as surpresas que nos esperam, as perdas e os naufrágios. Não há viagem sem percalços, enganos e desencontros. 
Dessas vivências, marcantes e dolorosas, nascem o aprendizado das coisas, a maturidade e o entendimento. Não há como crescer sem pagar o tributo necessário à vida. Por isso, trazemos no corpo e no ser as marcas dos embates que travamos nesse percurso pelas veredas do mundo.

Esse caminhar pela enigmática geografia da existência é um campo de provas. Nossa força e valores são testados; nossa fé e resistência são desafiadas cotidianamente.  Essas experiências fazem parte do processo de depuração e fortalecimento de nossa têmpera, como o aço que adquire solidez pelo fogo

É verdade que nem todos suportam o desespero das provações. Não são poucos os que sucumbem, que buscam os atalhos ou se acomodam à sombra da covardia ou sob a proteção dos tiranos e poderosos. 

Ao invés de assumir o comando de suas vidas, contentam-se em ser coadjuvantes. Traem o milagre e a promessa que lhes estava destinada.

Gente assim é como árvore estéril, não dá frutos. Vive o amargor da irrealização, a vergonha de estar sempre a serviço das ambições alheias, a angústia de não ter tido coragem para enfrentar o destino e experimentar a maior de todas as conquistas: SER. 
Como é triste a existência desses seres obscuros que cumprem suas histórias sem
ousadia, sem paixão e sem esperança. 

Como árvores estéreis, não florescem. Que triste viver, sem florir, sem encantar os olhos dos passantes com a beleza e o brilho de suas folhas e frutos! Ou sem a alegria dos passarinhos atraídos pelo perfume de suas flores!

A vida, entretanto, não é uma metáfora da derrota e da covardia. A vida é uma metáfora da bravura, da generosidade e do amor. Os seres humanos que perseveram no cultivo do bem, do compromisso com o próximo e na esperança de construção de um mundo mais justo, construído sob o signo da justiça e da dignidade, justificam o grande milagre, que é a própria vida e seus encantos, e honram as conquistas e os valores mais nobres da civilização

Fazem parte de uma linhagem de seres que trazem no peito a luz e o sentimento do mundo. Por isso sofrem, por isso sonham, por isso choram. Por isso se perguntam e, às vezes, se desesperam, insurgem-se e se lançam no abismo da incerteza, de onde ressurgem alados, pássaros brancos a serviço da liberdade e da promessa de redenção do mundo

Por isso, seguem acreditando, apesar da brutalidade, da opressão e da mesquinhez – essa ferrugem que esteriliza os corações e obscurece os sentimentos.

*Tenório Telles é escritor, poeta e membro da Academia Amazonense de Letras.